top of page

A nossa beleza

"A beleza para mim é a mesma que para você? E para ela? E para todas as outras?"

       O que é beleza? A beleza para mim é a mesma que para você? E para ela? E para todas as outras? Existem padrões considerados mais belos e menos belos? Revistas, novelas, filmes e propagandas tentam nos mostrar que existem padrões prontos e pré fabricados para o que deve ser considerado bonito e o que não se encaixa nessa classificação.

 

      Por toda a história humana, mulheres foram submetidas a alguns padrões fixos considerados belos, desde que respeitando àquelas formas. Características específicas para cada parte do corpo montam um conjunto que é julgado como bonito ou não. Cor dos olhos, inclinamento de nariz, formato de boca, largura dos ombros, tamanho de barriga, pés, altura das pernas, tom de pele etc.

 

      O bombardeamento de imagens de tais padrões nos levam a crer que essa seja a única forma correta de beleza. A aparição de mulheres midiáticas e não midiáticas que tentam desconstruir tais ideias nas cabeças de quem entram em contato é de grande relevância para a sociedade como um todo, principalmente para cada mulher, que sofre diariamente pressões psicológicas e físicas por não se encaixarem em um padrão, que convenhamos, é irreal. Muito mais do que se aceitarem, elas estão percebendo que a beleza vai muito além de alguns atributos físicos. Nosso objetivo com essa reportagem é mostrar como a existência de padrões afeta diariamente a vida das mulheres. Vamos celebrar a sua, a minha, a nossa beleza!

 

 

 

A mídia pela mídia

   

     Nuta Vasconcelos, blogueira e jornalista, faz parte do time Girls With Style (GWS), site feminino que aborda diversos temas como moda, música, relacionamento e opinião. Poderia ser um site estereotipado para mulheres, mas a diferença é que tudo é feito por uma lógica de engajamento de gênero, social e racial. O GWS teve como princípio a necessidade de um espaço em que meninas jovens adultas e adultas, tivessem um lugar em que falassem e ouvissem sobre assuntos que não ganhavam fixação antes. Assim, o site foi ganhando a cara de lugar em que meninas e mulheres tem lugar para exibir seu trabalho, “hoje em dia está popular falar sobre força feminina, apoiar o trabalho feito por garotas, debater o feminismo, mas em 2008, quando criamos o GWS, isso não era comum”, explica Nuta sobre o pioneirismo do site.

 

      Mesmo para quem faz parte da mídia, falar sobre padrões impostos pode ser muito difícil, seja no âmbito comercial ou na relação jornalista e leitor. “É difícil quando você quer apresentar essa nova maneira de falar de beleza pra um possível anunciante ou marca de cosméticos, mas com a leitora é um trabalho de quebrar padrões. E é incrível ver mulheres se aceitando e se amando como são, além de não criticarem outra garota, vendo a beleza fora dos padrões.”, conta Nuta.

 

      Muito antes da hashtag comercial criada pela Revista Glamour, as meninas do GWS iniciaram o projeto “Terça sem Make”, que serve como um alerta para mulheres que são cobradas diariamente por estarem impecáveis, o que inclui maquiagem. O local de trabalho foi o ambiente com maior objetivo de alcançar. “ Em alguns a mulher é obrigada a usar maquiagem para  ser considerada apresentável. Por que um homem sem maquiagem é apresentável  e uma mulher não? Por que a gente acha que pra estar bonita em uma selfie tem que estar maquiada?”, explica e questiona Nuta. Mesmo com o convívio com a luta por padrões e machismos midiáticos, a jornalista não vê resultados expressivos na sociedade, como um todo. O sentimento de preocupação constante das mulheres com o visual é o que deixa claro, para Nuta e para todas nós, de que ainda há muito tempo de combate pela frente. “Elas precisam estar sempre impecáveis, não porque querem, porque é prazeroso pra elas, mas porque acham que devem isso a sociedade, ao trabalho, ao marido.”, explica ela. Acima de tudo isso, a grande preocupação com a repercussão do ideal de padrão é a influência em mulheres para/com mulheres, semelhantes a elas, mas que em algum momento, não se encaixam - também - naqueles modelos, surgindo aí um sentimento de competição feminina em busca do ranking de quem atende mais ou menos aos tipos “perfeitos”.

 

       A luta não é apenas uma representação para um público que você não se encaixa. Nuta tem a sua própria ideia de beleza para seu corpo. Mesmo admirando celebridades, como Kim Kardashian, a blogueira compreende que a adoção de algum corpo como “ideal” tende a gerar prejuízos, já que tais modelos costumam ser inacessíveis por diversos fatores, como ritmos de vida, situações financeira e acessibilidade. A busca pela vaidade é válida, porém ela deve ser feita por um prazer pessoal, não por ódio à aparência natural. “Sou a favor da gente tá feliz com a gente, e quando a gente se ama, ama nosso corpo, até mudar ele fica mais prazeroso. Não sou contra processos estéticos,maquiagem, nada disso. Muito pelo contrário. Mas nada deve ser feito porque você odeia seu corpo. Toda mudança deve vir e acontecer porque você ama seu corpo e quer sempre o melhor e mais saudável pra ele”, explica ela.

 

       Uma sociedade ideal sem ideais talvez seja a ideia mais próxima do justo com todas. Sociedade em que mulheres não se escondam por pesarem mais ou menos, em que todas frenquentem os lugares que quiserem e não aqueles que permitam vestir uma determinada roupa para um determinado tipo de corpo, em que a vida seja realmente aproveitada. “Sobre o que é belo em mim, gosto de várias coisas e outras me incomodam, mas eu me permito ser feliz e fazer as coisas que amo. E acho que essa tem que ser sempre a meta.”, exemplifica Nuta sobre o que é a beleza para ela mesma.

 

 

O poder da representatividade

 

      Usando como ferramenta o seu talento para desenhar, a artista Evelyn Quiróz denuncia situações de opressão sofridas por mulheres que não se encaixam nos padrões estéticas. Ela criou a personagem Negahamburguer para dar voz a mulheres que sofrem por não se sentirem representadas e, com isso, ajuda elas a se sentirem bonitas e merecedoras de respeito. A personagem surgiu de uma boneca de infância que sempre acompanhou Evelyn. “Nomeei a personagem de Negahamburguer, em homenagem a uma boneca que tenho, que é linda e gorda. A personagem carrega consigo inúmeras personalidades de mulheres, principalmente fora do padrão,  que um dia sofreram por isso, mas hoje estão libertas desse mal que a sociedade insiste em obrigá-las a carregar”, explica.

 

     Para ela, o grande problema é que as mulheres não se vêem representadas pela mídia e tentam se moldar por essa farsa. Como não conseguem o ideal é inalcansável, elas se frustram, se sentem mal com a própria aparência. E a única solução para isso seria a representatividade. “Apesar de a mídia se importar mais em vender do que representar, é fato que têm um poder persuasivo absurdo sobre a população. Seja para mulheres, homens, ou crianças. Então precisamos SIM, de gays, pretas, gordas, e cabelos crespos na mídia, todos os dias, porque isso inclui, porque isso também é bonito de se ver e ser”, diz ela.

 

       E com seu trabalho, Evelyn consegue fazer com essas mulheres se sintam um pouco mais representadas. “O objetivo do meu trabalho é exatamente este. Eu recebo muitos relatos. Alguns fortes, outros de superação, e todas indicam que meu trabalho as fizeram perceber que são lindas e que merecem respeito. Eu acredito sim que esteja fazendo algo bom por elas. Isso me enche de amor, e impulsiona o meu trabalho, que também amo”.

 

 

 

Palavra profissional

 

      A existência de padrões tão pouco representativos afetam psicologicamente muitas mulheres, principalmente meninas que estão passando pela puberdade e vendo seus corpos se transformarem. Teresa Gama, psicóloga que atende muitas jovens, conta que a dificuldade em se encaixar nas exigências da sociedade faz com que elas se sintam inseguras diante de diversas situações da vida, o que pode ser muito prejudicial. Confira abaixo a entrevista completa com a psicóloga:

 

NB - Quanto os padrões de beleza influenciam na auto-estima de meninas e jovens mulheres?

TG: Influenciam bastante, pois, principalmente na adolescência e na juventude, as pessoas se guiam muito pelos fatores externos. Ser reconhecido, valorizado, fazer parte de um grupo, são aspectos que interferem no bem estar dessas pessoas. Por isso é uma fase em que há um esforço grande para se adaptar ao meio externo, a corresponder aos padrões estabelecidos. E, como os padrões de beleza hoje são irreais, é impossível atender a eles. E isso pode acarretar um sentimento de inadequação, que afeta muito a auto-estima.

 

NB - Isso pode levar a um quadro de insegurança?

TG: Sim, a pessoa tem como referencia os padrões externos, se sente inadequada e não consegue reconhecer os próprios valores, suas qualidades e talentos e se sente insegura diante das situações da vida.

 

NB - Você já conheceu alguns casos desse quadro de insegurança ou baixa autoestima em mulheres pacientes?

TG: Sim, principalmente em mulheres jovens. E, quando a pessoa tem recursos faz cirurgias plásticas, dietas exageradas, inúmeros tratamentos estéticos, e mesmo assim continua buscando um ideal inatingível e se sentindo insatisfeita, infeliz. Se a pessoa se permite se questionar, olhar para dentro e descobrir outros aspectos dela, poderá passar a se ver de um angulo diferente e não somente através da estética. E isso pode ajudá-la a recuperar a auto-estima.

 

NB - Normalmente, qual o tipo de tratamento ou de trabalho para elas melhorarem esse quadro e se sentirem bem com sua própria beleza?

TG: Acho que uma parte está respondida acima. Envolve um trabalho de reflexão, de questionamento desses valores coletivos, dos padrões que são "vendidos" como o "certo", "o que tem valor". E, também de descobrir e reconhecer suas qualidades, seus valores e reconhecer que ela não precisa ser como a sociedade impõe, que cada ser humano é único, tem suas peculiaridades, sua individualidade e seu valor.

 

 

 

O corpo ideal
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

       É difícil pensar em momentos em que não somos atingidas por meios de comunicação. A televisão, a internet, revistas e publicidade entram nas nossas vidas, muitas vezes sem pedir licença. Com tanto espaço no nosso dia a dia não podemos negar, que a mídia acaba influenciando o modo como pensamos e agimos. Mesmo sem que a gente perceba, quanto mais vemos determinadas imagens, mais elas se consolidam no nosso pensamento. E isso acontece com a imagem que temos de nós mesmas.

 

         Desde pequenas, as mulheres são ensinadas a buscar um ideal de beleza aceito pela sociedade. E a todo tempo, esse ideal é reforçado pela mídia. Magra, alta, loira, cabelo liso, traços finos. A grande maioria das mulheres que aparecem em revistas, comerciais, novelas, filmes, programas de TV tem pelo menos uma dessas características - na maioria das vezes todas juntas. O impacto disso em suas vidas leva a uma busca desenfreada pela perfeição e uma insatisfação com o próprio corpo muito difícil de quebrar.

 

         Mas se no mundo existem tantas mulheres diferentes, por que existe um ideal? Por que apenas um número limitado de características, que fogem da realidade da maioria das mulheres, é valorizado? Essa é uma questão que envolve inúmeros fatores, mas é fácil perceber que quanto mais as mulheres correm atrás de um padrão inalcançável, mais elas são alvo de produtos que prometem ajudá-las. E menos livres nós somos.

 

 

 

Dica do NB:

 

        Felizmente, muitas mulheres por aí entenderam que são bonitas do jeito que são e que quiserem ser. Elas estão se libertando do padrão e se aceitando. Veja alguns exemplos na reportagem multimídia produzida por Gabriel Monteiro, Juliana Milan, Teresa Espallargas, Lívia Albuquerque, Davi Sant’Ana e Dâmaris Dellova Oliveira http://narraiz.tumblr.com/.

Campanha no site da marca de lingerie americana, Victoria's Secrets

Capa da Vogue Brasil com destaque a um "corpo ideal"

bottom of page